sábado, 31 de julho de 2010

Os Vampiros

Poucos músicos incorporaram com tamanha precisão o espírito do Portugal do pós-Guerra que apesar dos pesares produziu a Revolução dos Cravos - um feito num país, cuja tradição medievalista sempre o tornou aparentemente imune aos avanços e transformações da Europa que o cercava ao Oriente. Pode ser que o os percalços da História tenham reduzido os efeitos do Abril de 74, mas, certamente, depois daquele mês, Portugal foi um lugar melhor. Uma geração que tinha Saramago na literatura e um Zeca Afonso na música não era pouca, seja em capacidade ou intenção. Qualquer homenagem nossa àquela geração lusitina é pequena. Segue, uma música do saudoso Zeca - que nos deixou tão cedo de maneira tão desditosa -, tão atual no Brasil de hoje que parece brincadeira - ainda mais com a sombra de um Serra pairando.





No céu cinzento sob o astro mudo
Batendo as asas Pela noite calada
Vêm em bandos Com pés veludo
Chupar o sangue Fresco da manada





Eles comem tudo Eles comem tudo
Eles comem tudo E não deixam nada [bis]




A toda a parte Chegam os vampiros
Poisam nos prédios Poisam nas calçadas
Trazem no ventre Despojos antigos
Mas nada os prende Às vidas acabadas






Eles comem tudo Eles comem tudo
Eles comem tudo E não deixam nada [bis]



Se alguém se engana com seu ar sisudo
E lhes franqueia As portas à chegada


Eles comem tudo Eles comem tudo
Eles comem tudo E não deixam nada [bis]




No chão do medo Tombam os vencidos
Ouvem-se os gritos Na noite abafada
Jazem nos fossos Vítimas dum credo
E não se esgota O sangue da manada





Eles comem tudo Eles comem tudo
Eles comem tudo E não deixam nada [bis]



São os mordomos do Universo todo
Senhores à força Mandadores sem lei
Enchem as tulhas Bebem vinho novo
Dançam a rondam No pinhal do rei


Eles comem tudo Eles comem tudo
Eles comem tudo e não deixam nada [bis]


Se alguém se engana Com seu ar sisudo
E lhe franqueia As portas à chegada
Eles comem tudo Eles comem tudo
Eles comem tudo E não deixam nada


Eles comem tudo Eles comem tudo
Eles comem tudo E não deixam nada [bis]

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