terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

A disputa pelo Governo de São Paulo

atual é uma das disputas mais mornas que se tem notícia por essas terras. Não obstante a tradicional baixa atenção dada às eleições parlamentares federais - fruto do oportunismo dos políticos nacionais, a falta de cultura de participação política por parte dos cidadãos e a própria deseducação que a mídia corporativa promove -, agora, assistimos a um esvaziamento das eleições estaduais, em especial em São Paulo, maior estado da Federação - e isso, acredito, se deve ao fato de que no duro tanto PT quanto PSDB são partidos paulistas antes de serem brasileiros, como a briga pela Presidência da República é absurda este ano, as demandas estaduais (bem reais, diga-se) estão sendo deixadas de lado.

(Bandeirantes - adcionados dia 03/02)


Depois de toda a guerra interna sangrenta dentro do PSDB - partido no qual a briga foi tão hedionda que, para afirmar internamente e disputar a Presidência, Serra foi capaz de sabotar Alckimin eleger Kassab nas municipais da Capital em 2008 -, resta um bocado de ressentimento lá dentro e a concetração de poder gigantesca nas mãos de Serra - que aparentemente não tem secretários e faz tudo sozinho no seu governo como a sua propaganda, divulgada até no Acre, sugere - produz um esvaziamento que impede o partido de se oxigenar. Por ora, resta a obessessão por defenestrar o PT do Palácio do Planalto custe o que custar e dane-se o resto; na escala estadual, a provável candidatura de um desacreditado Alckimin é a mais fidedigna expressão disso.

Do lado petista não é muito diferente: Os esforços todos estão concentrados na eleição de Dilma e, somada a briga entre os cabeças da Articulação, principal corrente do partido e igualmente concentradora de poderes,  não se produz sequer uma candidatura sólida lá dentro e tampouco abre espaço para uma discussão interna para que envolva as outras correntes e outros nomes  - imagine só, se por um acaso isso gera um projeto político plausível para resolver os graves problemas do estado. Ora o candidato é Palocci, depois é Mercadante, em outros momentos é Marta - todos de alguma maneira desgastados, pouco empenhados em desenvolver um projeto, mas perfeitamente dispostos em concorrer. José Eduardo Cardozo, que deve assumir o Ministério da Justiça no lugar de Tarso Genro, é politiqueirão, mas poderia ser um nome cogitável, só que não entra no cardápio porque não é da Articulação. Ainda assim, todos os nomes citados conseguem ser bem melhores do que o glorioso picolé de chuchu.

Cogita-se também o nome de Ciro Gomes como candidato a governador pelo lulismo, talvez com um vice petista,  em uma espécie de compensação para sair da corrida presidencial. Um descalabro, sem dúvida. Lulistas e petistas de todo país alimentam essa ideia com se pudesse ser algo razoável - o que não é, seja pela biografia questionável de Ciro quanto pela artificialidade do modo como essa candidatura está sendo pensada. Argumentos realpolitkeiros ou coisas como "o eleitorado paulista é conservador, o máximo que poderemos emplacar é um Ciro" beiram o ridículo; não é possível empurrar para os cidadãos a culpa pela tremenda irresponsabilidade histórica e social do PT em estar pensando tão mal a política estadual há tanto tempo - em especial, os gravissímos problemas sociais de certas regiões do interior.

São Paulo tem problemas graves por mais que sejam tabus debaterem eles; além da educação pública profundamente deficiente, uma péssima rede de saúde pública horrível - em grande parte pela forma como os servidores públicos são explorados em detrimento da burocracia enraízada nas secretarias da vida - faltam políticas de coordenação intermunicipal - principalmente nas regiões metropolitanas do estado, nas quais o planejamento e a problemática social acaba saindo da mão das administrações municipais devido ao fenômeno radical de conurbação que ignora as divisas municipais. 

Ademais, resta o problema de que o interior tem seus focos de desenvolvimento, determinadas cidades que se tornaram centros industriais respeitáveis, mas que padecem de problemas sociais nas suas periferias - além, claro do gravissímo problema da Região Metropolitana de São Paulo, com 39 municípios e um verdadeiro anel de miséria em seu entorno fruto de um processo de desindustrialização precoce e uma passagem turbulenta para uma fase pós-industrial, que pode sim se repetir no interior sem que não tenhamos desenvolvido uma solução plausível. Honestamente, não estou esperando nada de bom este ano.

3 comentários:

  1. A impressão que tenho é a de que o PT em São Paulo, que tinha na bem votada eleição do Mercadante ao Senado a esperança de um bom candidato para quebrar a hegemonia do PSDB no estado, depois do massacre da mídia com o "mensalão", além de outras falhas próprias, não mais conseguiu se reerguer. E também me admira a falta de articulação para tentar fixar um candidato.

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  2. Paulo,

    Tenho conversado com algumas pessoas que militam no PT e conhecem bem como funciona o partido por dentro e o fato é que há muita desinformação; nesse momento, existe uma guerrinha palaciana inadmissível - e a todo momento, surge um nome diferente. Isso é tenebroso e ao mesmo tempo demonstra como os vínculos do partido com a sociedade civil se esgarçaram tão fortemente nos últimos tempos. Evidentemente, Mercadante é um nome muito melhor do que Alckimin, mas também está distante de ser o que precisamos - a impressão que eu tenho é que depois de sua maravilhosa campanha para o Senado em 02, a carreira política dele (até ali bem promissora) desceu ladeira abaixo. No fim das contas, talvez ele tenha levado as instituições a sério de mais, o que, levando em conta o que é a nossa Câmara Alta, é um suicídio.

    um abraço

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  3. Ah e essa hipótese de rifar São Paulo com uma candidatura Ciro Gomes, eu nem sequer cogito: Vai matar o PT daqui assim como aconteceu no Rio.

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