segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Esclarecimentos, Razões e Paixões


Choveu bastante hoje em São Paulo. Aliás, tomei uma baita chuva. Meu Palmeiras, por sua vez, tomou ferro do Flamengo ontem - não pude acompanhar o jogo, não vi ainda os gols, mas já suspeitava de que um espectro esquálido realmente rondava o Palestra por esses dias. Também ando muito ocupado com uma série de coisas na Universidade, desde política estudantil até os estudos - e tenho extraído algumas experiências interessantes de ambos. Talvez as conte um dia, talvez isso nunca aconteça, mas uma coisa que me tem ocorrido é o quanto toda a questão do
Iluminismo merece um debate sério: Ainda nos vemos às voltas com a Escolástica; ela realmente insiste em não morrer nos mais variados - e inesperados - setores. Será que o Esclarecimento ainda estaria seguindo um tortuoso curso histórico rumo a sua consolidação ou, simplesmente, ele teria falhado por não considerar corretamente o peso e a profundidade que a tensão dialética entre razões e paixões tem na composição do nosso ser? Não seríamos vítimas de uma acidente cósmico que nos produz racionais ao mesmo tempo em que desesperadamente passionais? Não nos arrastaria a razão para a vertical enquanto a paixão faz o mesmo na direção horizontal, nos restando apenas a vã esperança de que uma hipotenusa ideal nos impeça de ser partidos ao meio? Nesses dias que se seguirão O Descurvo seguirá num ritmo mais lento do que o habitual. Sigo tentando interpretar o mundo e, quem sabe, muda-lo nem que seja um pouquinho.

Um comentário:

  1. Cecília Meireles

    Gargalhada

    Homem vulgar! Homem de coração mesquinho!
    Eu te quero ensinar a arte sublime de rir.
    Dobra essa orelha grosseira, e escuta
    o ritmo e o som da minha gargalhada:

    Ah! Ah! Ah! Ah!
    Ah! Ah! Ah! Ah!

    Não vês?
    É preciso jogar por escadas de mármores baixelas de ouro.
    Rebentar colares, partir espelhos, quebrar cristais,
    vergar a lâmina das espadas e despedaçar estátuas,
    destruir as lâmpadas, abater cúpulas,
    e atirar para longe os pandeiros e as liras...

    O riso magnífico é um trecho dessa música desvairada.

    Mas é preciso ter baixelas de ouro,
    compreendes?
    — e colares, e espelhos, e espadas e estátuas.
    E as lâmpadas, Deus do céu!
    E os pandeiros ágeis e as liras sonoras e trêmulas...

    Escuta bem:

    Ah! Ah! Ah! Ah!
    Ah! Ah! Ah! Ah!

    Só de três lugares nasceu até hoje essa música heróica:
    do céu que venta,
    do mar que dança,
    e de mim.



    (Andre)

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