quinta-feira, 1 de outubro de 2009

1º de Outubro - 60 anos da Revolução Chinesa


Hoje é a data de aniversário da Revolução que modificou de maneira indelével o maior país do mundo. Há 60 anos, Mao Tsé Tung fez o famoso discurso na Praça da Paz da Celestial que resultou na República Popular da China. A Revolução de 1949 foi um resultado direto do processo de ocidentalização pelo qual passava a China, país milenar que desde os meados do século 16º se encontrava em decadência - o que a fez incorporar modelos ocidentais, primeiro com o advento da República no início do século 20º, depois com a Revolução que vem na esteira do pensamento marxista e da escalada revolucionária que começa no leste europeu e ruma para o oriente.


A China de 1949 era um país que há cem anos se encontrava em um verdadeiro caos; da queda da dinastia Ming nos anos 1640 até a derrota na Primeira Guerra do Ópio em 1842 se materializou como um período de letargia onde o modelo chinês esteve em xeque a todo momento, daí em diante, assistimos aos impactos do colonialismo ocidental que vem culminar em um processo tortuoso de republicanização do país e passa pelo crivo do traumático domínio japonês nos anos 30 - agravado pela guerra civil entre nacionalistas e comunistas. 49, portanto, foi um ponto de inflexão nesse processo.


Seis décadas depois, a China é a segunda economia mundial, tendo fechado 2008 com algo entre 11% e 12% do PIB mundial além de ter mantido, em plena Crise Econômica Mundial, um ritmo de crescimento alucinante e um poderio militar considerável - diferentemente do país arrasado do fim dos anos 40, onde a situação dos camponeses era de miséria profunda e o incipiente parque industrial do país estava na mão de quatro famílias. Paradoxalmente, o país não superou certas premissas da lógica administrativa burocrática do confuncionismo assim como não o fez em relação ao modo filo-stalinista de organização política do país; a questão das nacionalidades segue, como provou a recente crise no xinjiang assim como o problema da cidadania e das liberdades políticas, algo não incomum a regimes socialistas burocráticos.


O nacionalismo que o Partido Comunista exorta desde o fim do bloco socialista é, nada mais, que uma construção ideológica que mira a unidade de um país ontologicamente fragmentado e também a busca pela reconstrução da narrativa do ponto de vista político - A China atual é um país profundamente ocidentalizado, seja pela superação de sua monarquia no início do século, pelo socialismo ou pela recente abertura econômica; enfim, o país tem mimetizado modelos ocidentais e adequado-os a sua realidade, com êxito variável, e dos fins dos anos 70 para cá, é a pedra de toque do processo de mundialização do capitalismo e da consequente reorganização da divisão do trabalho.


Aliás, é bom não perder de vista o quão diferentes são as duas fases distintas do período socialista; a primeira que vai da Revolução até a entrada do país nesse processo em 1978 - onde o modelo soviético é copiado ao pé da letra com algumas pequenas singularidades, uma tentativa de industrialização sanguinolento nos fins dos anos 50 e uma tentativa não menos confusa dos anos 60 e 70 da Revolução Cultural - e a que vem de lá para cá - quando Deng Xiaoping mantém o controle e o planejamento central, mas se abre para o capital internacional e constrói um modelo industrial-exportador, responsável por um dos mais especulares processos de crescimento economico da história da humanidade que, no entanto, se combina com uma escalada perigosa da desigualdade social e a produção de seríssimos danos ambientais.


O futuro da China não é pouco complexo; pesa o imperativo da construção de um modelo que responda às novas necessidades do país, haja vista que os modelos soviético, americano e japonês cada vez menos ajudam a nortear o futuro do país - o primeiro já faliu, o segundo e o terceiro já estão esgotados em seus próprios países; resta a dúvida se é possível existir uma China livre e viável dadas as diferenças econômicas e culturais entre as regiões do país ao mesmo tempo que o próprio exercício da hegemonia de forma centralizada vai se aproximando do seu termo final - em grande parte pelas profundas transformações que o país está sofrendo neste exato momento, quando a Crise Mundial o fez se voltar para dentro e desenvolver o seu mercado interno de forma desesperada.

2 comentários:

  1. Uma vez perguntaram a um diplomata chinês o que ele achava da possibilidade da China ser o principal país do mundo em 50 anos.

    Ele respondeu que a China foi o maior país do mundo por 2 mil anos e só estaria recuperando tal posição.

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  2. Taquaral,

    Diria que o diplomata chinês foi um pouco exagerado, desde a unificação do país em 221 a.C. até hoje, ele viveu momento de glória absoluta - no início, nos bons momentos das dinastias Han, Tang e Ming além do momento atual - e de total degradação - como na período entre a dinastia Tang e a Ming, as invasões mongóis, toda a dinastia Tsing e o período inicial da República.

    Nas glórias da fase pré-republicana, é provável que a China tem sido mesmo o país mais importante do mundo, mas não se expandiu por conta da sua própria compreensão de imperialismo, o que implica no entendimento da sua superioridade cultural sobre os demais povos do mundo - a ponto de acreditar que certos povos eram tão bárbaros que sequer mereciam ser dominados.

    A coisa munda com a ocidentalização do país. Muitos conceitos da filosofia ocidental foram absorvidos pelo país, do contrário, não estaríamos falando de uma República Popular. Isso implica em um ponto de inflexão; o modo como a China cresce hoje e a finalidade com a qual esse país o faz se assentam sobre um paradigma consideravelmente diferente; a China, quantitativamente poderá recuperar a posição que ocupou em dados momentos históricos, mas o exercício do poder que ela vai exercer será consideravelmente diferente - ainda mais no contexto de um mundo cada vez mais complexo e muiltipolar.

    abraços e fico grato pela visita.

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