terça-feira, 9 de junho de 2009

Blog da Petrobras

(Foto retirada daqui)

Eis o blog da Petrobras, a grande novidade da blogosfera nessa semana. Como os meus argutos leitores desconfiam, o ano eleitoral já começou faz tempo. Entre as bizarrices que anteciparam o começo de 2010, estão desde a campanha hedionda para a desmoralização da Ministra Dilma Rousseff, provável candidata à sucessão, assim como o bombardeamento de factóides que sofreu a poderosa empresa petrolífera para dar ensejo a uma CPI - o picadeiro mais manjado da República do espetáculo decadente.

Que fez a Petrobras então? Criou um blog para tornar públicas as informações sobre si mesma. Deu um chapéu na fábrica de factóides da oposição - ou seria imposição? - e deu o drible da vaca numa mídia corporativa que além de estar fazendo política em vez de jornalismo há muito tempo, ainda pensava em ganhar boas manchetes com a brincadeira. Não sei de quem foi esse lance de gênio, mas o cara sacou o Capitalismo contemporâneo: Vivemos um momento chave, onde o Capitalismo Financeiro está se convertendo em Capitalismo Informacional, a fronteira que separa o dado informacional do valor econômico está caindo por terra.

A Petrobras assumiu as rédeas da situação e deixou a "grande" mídia em estado de choque; aquele poder da mediação que os grandes grupos que integram o oligopólio midiático tinham - e que estava aumentando - cai no paradoxo essencial do nosso tempo: Se por um lado o poder da mídia aumenta, por outro, a Internet cria a possibilidade da criação de novos e mais efetivos instrumentos de comunicação - tendo em vista a crescente demanda por interação -; quem comunica tem poder, mas surgem, nas bordas do capitalismo financeiro decadente, a possibilidade de que mais pessoas sejam comunicadoras e, por conseguinte, a notícia perde o caráter dogmático para se tornar algo aberto à livre construção, reflexão e interrogação.

Por outro lado e para além da questão da demanda informacional propriamente dita, há outros dois pontos: O primeiro deles aponta em direção da crescente indissociabilidade entre a questão ecológica e econômica, o que, tão logo porá fim à impressa impressa por N questões relativas à sua produção, distribuição e posteriores impactos referentes ao seu descarte; o outro é que a própria televisão e o rádio cabem na Internet, apesar da recíproca não ser verdadeira e que se a segunda é imprescindível nos dias atuais, o mesmo não pode se dizer dos dois primeiros.

Sumirá o texto jornalístico? Creio que não, mas ele passará a conviver com a imagem e com o som na Internet - como já é possível -, mas haverá uma soma disso ao imperativo da interação, o que muda tudo. Mesmo que grandes grupos de informação vivam e sobrevivam na rede, isso será dentro de uma realidade em que a própria informação poderá ser construída, reconstruída e subvertida se for necessário. Em suma, acabou-se a era do jornalista todo poderoso que representa os interesses de um certo grupo de mídia e tirava sua casquinha.

Sobre esse assunto, o blog do sempre indispensável Idelber Avelar nos brindou com um mais um post brilhante, principalmente no que toca a desconstrução do argumento histérico e pueril de alguns jornalistas: A fonte não deve sigilo ao entrevistador - é em sobre isso que se assenta a análise do Sérgio Léo, por exemplo. Por outro lado, temos o Pedro Dória, que apesar de análise um pouco mais racional, aparece dizendo a obviedade de que a atitude não foi ilegal ou anti-ética, mas solta a pérola de que se trata de um caso de má assessoria de imprensa (mesmo diante de outra obviedade: o sucesso do blog e a maneira como ele reverteu o jogo). O Nassif, como sempre, apresentou um olhar bastante interessante sobre a questão - aliás, é possível encontrar no blog do João Villaverde o amarramento das pontas do emaranhado de fios que compõem a questão.

Por fim, meus caros, repito aqui o que eu escrevi no blog do Idelber: Quando jornais e jornalistas começam a esperar que a realidade se adapte às suas necessidades, significa que as coisas estão em fase terminal.

P.S.: Estarei em 15 de Julho participando de um debate no excepcional blog do Alexandre Nodari sobre o Extinção de Paulo Arantes, uma ideia que acabou surgindo lá n'O Biscoito.

11 comentários:

  1. Excelente blog! Mais uma boa descoberta através do Idelber!

    Aproveito para compartilhar minha opinião sobre todo este caso da petrobrás!

    http://tsavkko.blogspot.com/2009/06/petrobras-o-fim-da-midia.html

    e

    http://tsavkko.blogspot.com/2009/06/petrobras-o-fim-da-midia-2.html

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  2. Bom texto, Hugo.

    O Descurvo não poderia ficar sem uma menção ao surgimento do Blog da Petrobras - que o Leandro Fortes, da CartaCapital, já caracterizou como "marco histórico, no Brasil, do fim do jornalismo diário impresso tal qual o conhecemos e de todas as idiossincrasias induzidas e adquiridas nas redações brasileiras ao longo dos últimos 50 anos".
    Obrigado pela menção no post meu caro.
    Abraço

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  3. Raphael,

    Valeu, darei uma passada lá.

    João,

    Leandro Fortes é outra figura indispensável na Internet nacional hoje em dia e matou a pau nessa declaração.

    abraços coletivos

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  4. O Dória eu até tento entender, o cara trabalha pra grande mídia... Mas tanto no caso dele quanto no do Leo eu esperaria o silêncio. Não quer falar, não pode porque tem o rabo preso? Não fala, finge que não ouviu falar.

    Não gosto muito de quem é combativo de um lado mas quando a coisa fede, vira pelego e corre pros braços da mãe (mídia, no caso).

    Mas realmente, eu não os colocaria do lado podre, do lado da mídia corporativista mas ainda assim fico um pouco mais crítico quando leio algo deles.

    Valeu pelo elogio!=)

    grande abraço!

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  5. Raphael,

    O Sérgio Léo também. Sobre o Dória, mais do que esse posicionamento corporativista no que toca a mídia tradicional, as concepções dele de Internet e blogosfera não coincidem exatamente com as minhas. Ler criticamente, eu leio qualquer um, o problema é ler com desconfiança, isso, infelizmente, eu faço com ambos - quando cada vez mais raramente os leio - por conta desses posicionamentos.

    abração

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  6. Não há como escapar das metáforas futebolísticas: foi um olé na mídia corporativa. E, com certeza, vai fazer escola.

    Os argumentos dos jornalistas são de morrer de rir. O Igor Gielow (?) diz que, com o blog, "Há uma quebra de contrato ao divulgar as informações de que os jornalistas dispõem". Só que quem disponibilizou as informações foi a Petrobrás. É surreal um argumento desses. Das duas, uma: ou esse "jornalista" (com todas as aspas possíveis) é o melhor humorista já surgido no Brasil ou ele morre de vergonha dele mesmo. Convenhamos, a sério, não dá pra levar

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  7. Sobre a tal "quebra de contrato" O Túlio Vianna dá um show, estou sem o link aqui mas vale dar uma olhada.... É o Gielow versus o professor de direito da UFMG!=)

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  8. Maurício e Raphael,

    O cara disse isso mesmo? Nem dá pra acreditar nisso...Eu até falaria em "desonestidade intelectual", mas dada a infantilidade do argumento, fico com burrice e arrogância mesmo. Agora, o Gielow tentando dar aula de Direito Civil é demais pra minha cabeça - ainda não li a resposta do Túlio, mas provavelmente foi um massacre, chego a ficar com pena ;-)

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  9. É bem por aí..

    http://tuliovianna.wordpress.com/2009/06/09/o-globo-se-supera-e-diz-que-perguntas-sao-propriedade-do-jornalista/

    e

    http://tuliovianna.wordpress.com/2009/06/07/o-globo-quer-ter-monopolio-das-perguntas-e-respostas/

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  10. Raphael,

    Já li os posts. O Gielow perdeu uma bela oportunidade de ficar na dele. Esses caras despirocaram - o que é mais uma prova da ruptura que o blog da Petrobras representa, não há como questiona-lo sem fazer o uso descarado de falácias.

    Também é interessante como alguns jornalistas se acham proprietários das notícias que difundem...

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  11. É por isso que eu digo e repito, o que a petrobrás fez foi nada mais nada menos que uma revolução.

    Revolucionou a maneira de se relacionar com a imprensa e evitar distorções, manipulações e mentiras deslavadas. Uma maneira direta de se comunicar sem intermediários.

    Os jornais já estão em crise - tanto ideológica quanto financeira - imagina se iriam ficar calados frente À mais essa afronta ao seu monopólio a informação!

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